QUANDO O MUNDO COUBE EM MEU QUINTAL

Quando em minha vida tudo ainda era apenas brincadeira,

A inocência do meu ser parecia que jamais teria fim;

Meu quintal, que de tão grande parecia-me o mundo, 

Era o meu palco, que mesmo sem platéia era tudo pra mim.

Qualquer brincadeira valia a pena,

Brincando muitas vezes sozinho;

Eu era eu mesmo e ao mesmo tempo, era eu o meu vizinho.

Madeira virava cavalo,

Toda lata virava brinquedo;

Queria ser um herói,

Mas de qualquer sombra já tinha medo.

Hoje resta apenas muitas saudades,

Saudades da inocência, da simplicidade de ver as roupas brancas da minha mãe, tremulando no varal;

Saudades dos tempos de criança,

Onde o mundo cabia em meu quintal.

José Gomes

São Francisco de Itabapoana RJ/ Brasil.

NÃO BASTA SER ETERNO, SERÁ PRECISO VALER A PENA

 NÃO BASTA SER ETERNO;

SERÁ PRECISO VALER A PENA".

Não basta o olhar mais carinhoso,

Vindo de quem as mãos não sabem afagar;

De nada servirão as palavras doces,

Proferidas dos lábios que não sabem beijar.

O jardineiro que se disser amante das rosas,

Mas as colhe por lhes presentear;

Dará prova errônea do seu amor,

Pois não há na vida amor verdadeiro, capaz de matar.

Na vida nada é tão certo o quanto parece ser,

A sombra que à noite te assustava;

Dão melhor prova do seu amor,

Pois ao pino do dia refresca-te, enquanto o sol tudo escaudava.

Se as frutas verdes não servem,

Não haverá uma sequer que madura, por muito perdure;

Como sempre não é todo dia,

Que tudo seja infinito enquanto dure.

José Gomes

São Francisco de Itabapoana RJ/ Brasil.

CONDENADO

Condenado estou

Definhando-me a cada dia,

Condenado como as flores

Que vc não mais regou.

Pudera ser eu um jardineiro

Pra cuidar de ti, rosa linda,

Regar-te iria, todos os dias,

Não fosse eu dela, um prisioneiro.

Se não bebo, da vida me embriago,

Mas se durmo, sonho,

Em devaneios medonhos,

Onde apenas d'ela provo um trago.

Condenado estou

A viver no breu,

Sem a luz de ti, meu sol,

Náufrago sem sequer um luar é o que sou.

Por liberdade eu clamo

Quero poder regar nosso antigo jardim,

Desejo ainda o perfume de cada rosa,

É só deixar-me saber o teu nome, que te chamo.

José Gomes

São Francisco de Itabapoana RJ/ Brasil.