DO NASCER AO POR DO SOL

O universo conspira à nosso favor...
Fomos feitos criaturas,
Hoje somos filhos do nosso Criador;
Quem O teme, sabe que Ele está triste conosco,
Inda assim, não se nega à nos ofertar o sol e todas as dádivas à nosso favor.
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Do nascer ao por do sol...
Quem pensa, ainda se engana;
Mesmo nas noites, os teus olhos atentos, nós livra dos tormentos,
E somos cobertos das bênçãos que somente de Ti, emana.
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Somos filhos queridos,
Porém desunidos;
Olhando somente aos próprios umbigos,
Sem temer dá vida, os tantos perigos.
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Ainda há quem julgue por sorte,
Ter quem o livre até da morte;
Pobre de alma, se na tormenta não é a sorte quem te acalma,
Mal sabe que no coração do Pai,
são eles, a maior ferida...
A morte pelo corte.
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José Gomes
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São Francisco de Itabapoana RJ

QUEM SE DÁ O RESPEITO, NÃO TEM PREÇO

Queria ser aquele vento,
Que te afaga os cabelos,
Que te sobe a saia
E que te deixa sem geito;
Queria ser aquele vento,
Que te sopra aos ouvidos,
Que faz sentir calafrios,
Te desconcerta da vida,
E faz-te apoiar-se em meu peito.

Quem sabe se eu pudesse ser aquela chuva fina,
Que te faz correr pra calçada;
Pedir abrigo debaixo do meu guarda chuva,
Quem sabe se o frio te faz buscar-me por abrigo no meio da madrugada.

Quem sabe se me visses como teu homem,
Pudera eu dar-te o meu sobrenome,
Quem dera-me...
Ser o Seu afeto;
O amigo dileto,
Pra não te ser só objeto.

Mas, se pra te alcançar,
Me faço de natureza,
Se não te faço ver a minha beleza,
Nem sei te mostrar o que guardo no peito meu;
Não é teu o defeito,
Quem rotula o meu preço sou eu.

José Gomes

São Francisco de Itabapoana RJ

RESQUÍCIOS

Das cinzas, havia ainda fumaça,
Porque as correntezas da vida,
Não só ofereceram águas para sufocar o fogo que havia em teu ser,
Mas também houveram ventos,
Que sopraram até às brasas novamente encandecer.
É o amor, que ressurge,
Brota feito erva daninha,
Floresce nas cinzas e,
Te faz desejar ser uma vez mais,
Só minha.

José Gomes

São Francisco de Itabapoana RJ

INSÍPIDO

Insípido, me parece o mundo;
Após o meu despertar deste sono profundo...

Depois de viver por entre os jardins da vida;
...de me deliciar com vastos perfumes,
E de muitos espinhos ter
Cicatriz e ferida.

Adormeci, e em sono profundo;
Desprendi-me​ da vida, contigo sonhei,
Tão distante do meu mundo.

Minha flor tão querida,
Rosa linda, talvez por cactus confundida;
Vivida na aridez,
Por tal forjou-se tão aguerrida.

Tendo seu perfume, penetrado em meu ser;
Hoje transpira por meus póros,
Fazendo-me imune aos demais perfumes,
Deixando o mundo insípido me parecer.
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José Gomes
♦
São Francisco de Itabapoana RJ

À MÃE NATUREZA

A natureza faz de mim um aprendiz de poeta...
Quando chove, as gotas que tocam meu corpo,
Penetram-me à alma como à um lençol;
E meu sorriso se expande feito o arco-íris que se forma ao reflexo do sol.

Depois da chuva, então é chegado o tempo do astro rei,
Sinto brotar de meus póros, a inspiração;
Como das plantas também brotam o verde que cobre a vastidão.

À noite, sou como morcego,
Saio da toca, pratica o desapego;
Colho pros bosques, as sementes,
Que irão te cobrir o desassossego.

Ao raiar do novo dia,
Saio de volta à lida como num dia normal;
As vezes esqueço-me que também sou criatura impotente,
Que vivo imponente,
Cativado neste mundo animal.

AS FLORES FALAM POR MIM

Das sementes que semeamos
Em nosso antigo jardim;
Muitas germinaram e ainda hoje,
Mesmo sem a sua presença,
Ainda insistem em florir.

Os cravos murcharam,
Às hortências, foram as primeiras à morrer;
Restando ainda às rosas,
Talvez pro meu martírio...
Logo elas, que mais me lembram você.

Ao fundo, dois lírios
Parecem saber de nada não;
Que estamos entregues à mercê da natureza,
E que o nosso resquício de vida,
Depende exclusivamente do seu perdão.

Por isso te peço,
Não o perdão,
pois ele não mereço;
Te peço apenas o regar das rosas,
Pois o meu fim lhe deve este preço.

Venha depressa!
Se tens ao menos pena do nosso jardim;
Regue nossas plantas...
E quando belas,
Deixe que as flores te falem por mim.

José Gomes
São Francisco de Itabapoana RJ

ATROZ

Que fiz eu em minha vida,
Para receber de ti,
Decisão tão atroz?
Fezeste do meu amor,
Tao grande oceano,
E de mim,  tão simples albatroz

LENHA DO MATO

Por hoje, não te posso ser muito...
Quero-te ser a lenha do mato,
Quero habitar a sua lareira,
No canto do quarto,
Consumo-me à te aquecer...
Do que me valeria outro eu ser?
Se só tu, tens o fogo
Que faz-me encandecer.

SUJEITO BESTA...

Sujeito besta, esse glutão!
Tira onda de bacana,
Sem ter sequer um prato de feijão.
Conta sempre a sua história,
Do jeito mais sacana,
Escondendo a sua memória...
Apanha em toda briga,
Mas só canta de vitória.
Com alegria, fala de amores,
No canto escuro do quarto,
Dos seus cotovelos, chora às dores.
Sujeito besta esse glutão!
Diz que é poeta,
Mas só rima com um litro na mão.

José Gomes

São Francisco de Itabapoana RJ

MENINA BONECA

Menina boneca,
Com seu jeito moleca,
Não esconde a sua cara de sapeca,
Brinca com o coração do mané,
Faz dele o que bem quer,
Já saiu dessa,
Agora é a vez do zé.
Para trás, já tantos ficaram,
Que juntos somaram,
Todos à um Zé-Mané.

José Gomes

São Francisco de Itabapoana RJ